Hoje trazemos até vós um testemunho aliciante, na primeira pessoa, especialmente para os interessados em voluntariado. A Mónica, uma amiga Double Trouble, trabalha no Reino Unido há mais de três anos e em 2015 decidiu ser voluntária no Senegal. Vamos então conhecer a experiência única da Mónica?
Olá! Antes de mais convém dizer aos leitores do Double Trouble que é a minha primeira vez nestas andanças, nunca antes fiz tal coisa! Mas o convite para partilhar a minha experiência surgiu uns dias depois de eu voltar, estava tudo tão fresco na minha memória que escrever num computador e converter partes do meu diário de 72 dias em algo real e mais sério me pareceu uma boa ideia! E sim, mantive um diário. 🙂
Chamo-me Mónica, tenho 24 anos, sou enfermeira numa urgência londrina e vivo no Reino Unido há três anos e meio. Desde há uns tempos que tinha esta “pulga atrás da orelha” relativamente ao voluntariado e uma experiência profissional ou de voluntariado num país sub-desenvolvido era um objectivo a cumprir. A oportunidade surgiu e quando dei por mim, entre inscrição, processo de selecção, entrevista e ser aceite, estava em Heathrow num voo de Londres-Dakar com outros sete voluntários.
Pedi uma licença sem vencimento de três meses para ir para o Senegal como voluntária ao abrigo de um programa chamado International Citizen Service (ICS) para jovens britânicos entre os 18 e os 25 anos ou que vivam no Reino Unido há mais de dois anos.
Estive a viver numa vila/aldeia chamada Sara no interior-norte do Senegal, no distrito de Kaolack, de 1 de Outubro a 11 de Dezembro de 2015. A instituição de voluntariado onde fui ‘alocada’ pelo programa é famosa no mundo inteiro: YMCA. Existe há mais de 170 anos, foram eles que criaram desportos como o basquetebol, voleibol e futsal. Não sabia mas parece que é mesmo verdade!
O nosso projecto incidiu na educação para a saúde a pessoas jovens. Doenças sexualmente transmissíveis, cólera, malária, tuberculose e diarreia foram as doenças a que nos dedicámos a estudar mais a fundo para mais tarde levar a informação através de pequenas sessões, dinâmicas com linguagem e métodos simples e espaço para perguntas no fim, a jovens residentes em zonas remotas onde a informação e muitas outras coisas não chegam.
Tudo parece relativamente fácil até nos darmos conta de um grande detalhe que muda tudo: a língua oficial no Senegal é o francês e quando eu achava que isso já ia complicar o nosso trabalho já que apenas um de nós falava francês fluente, os nossos colegas locais informam-nos que a maioria dos jovens e crianças não fala francês mas sim Wolof, o dialecto mais falado entre os 36 existentes no Senegal.
Éramos 14 no total, sete do Reino Unido e sete senegaleses. Começámos por ter aulas do complicado dialecto com eles e mais tarde elaborámos o guia das sessões nas três línguas – inglês, francês e Wolof.
Do total das dez semanas por lá, uma estava no entanto reservada para algo diferente: o “Development Challenge”. Algures no tempo por lá, tínhamos de escolher uma comunidade (uma aldeia por exemplo) e apurar as maiores necessidades junto dos seus habitantes e desenvolver um desafio/projecto do zero que fosse de encontro à maior necessidade encontrada. Isto trazia algumas regras: tínhamos uma semana para o pôr em prática; tinha de envolver os habitantes para que fosse possível continuá-lo sem a nossa presença e desta forma ser sustentável; o budget destinado a isto era de 500libras.
Entre idas à comunidade escolhida antes de passar à acção, questionários a mais de 100 pessoas, tratamento dos resultados, a maior necessidade da aldeia de Gapakh estava apurada: falta de retretes. Havia três para toda a aldeia e, por isso, aprender a construir retretes tradicionais, ensinar aos locais como o fazer, determinar o custo (total de três libras por retrete) foi o nosso “Development Challenge”, posto mais tarde em prática na nona semana.
Portanto, e resumindo, os primeiros quatro dias no Senegal foram passados num albergue a meio da estrada nacional que liga Dakar a Kaolack a receber formação para as semanas seguintes, a conhecer os nossos colegas locais, a perceber onde iríamos ficar, o que é que voluntários anteriores tinham feito e daí partimos para Sara.
Terminados os projectos, divulgámos tudo isto na imprensa local – jornais, rádios – e levámos os resultados às autoridades para nos fazermos sentir e ver.
Há ainda que referir que tudo isto resulta de uma parceria do programa ICS, financiado pelo governo britânico, com a YMCA, e que ao longo das semanas os nossos “Team Leaders” (um britânico e um senegalês) tinham de enviar relatórios semanais para a YMCA no Reino Unido e para os supervisores da YMCA no Senegal em inglês e em francês. Apenas desta forma conseguíamos aprovação para o que estávamos ali a fazer.
Bem-vindos à minha aventura! 🙂
As fotografias não são de grande qualidade, foram tiradas maioritariamente com smartphones (que nem esses eram topo de gama), já que a ostentação com câmaras fotográficas nas zonas onde estivemos não era recomendada.
A minha experiência vai continuar a ser contada em outros posts aqui no Double Trouble, que vos convido desde já a acompanhar. 🙂
2 Comentários
Bom dia, o meu nome é Laura Hernández, eu gostaria de fazer um voluntariado destas caraterísticas junto ao meu namorado.
Queriamos vivir durante 3 semanas com alguma familia e fazer diferentes atividades. Somos espanhois.
Como é que podemos informarmos ? Muito obrigada
Bom dia, Laura. Obrigada pelo contacto!
Há algumas páginas que podem consultar como a Para Onde? (http://paraonde.org/) e, nesta, têm programas de curta duração (de 1 a 3 semanas) como vocês pretendem. Têm também a Há ir e voltar (https://www.facebook.com/hairevoltar/).
Esperamos ter ajudado.
Um beijinho