São poucos os adjectivos capazes de descrever uma viagem pelo Vietname. É um país fascinante desde o primeiro minuto, com uma diversidade tal que é capaz de agradar a todos os gostos. De entre a enigmática Baía de Halong, à pitoresca Hoi An, sem esquecer o caos inebriante de Ho Chi Minh e Hanói, a antiga capital imperial Hué, o Rio Mekong e os seus mercados flutuantes. Tudo no Vietname é mágico e singular! É um caos que nos traz paz e um roteiro de 11 dias no Vietname não são suficientes para absorver tanta cultura nem degustar tanta variedade gastronómica. Mas, bem, mais vale 11 dias do que nada. Isso, sem dúvida!
Quando ir?
O Vietname é um país extenso com um clima muito variado: vai dos cumes nevados das montanhas a Norte até aos 40 graus a Sul. Portanto, não há propriamente uma altura exacta que seja ideal para percorrer todas as regiões. Muito resumidamente, em Hanói e no Norte, de Maio a Outubro é quente e húmido, com chuvas; de Novembro a Abril é mais frio e mais seco. O Vietname Central tem um clima quente e seco entre Janeiro e Agosto quando as temperaturas podem atingir os 30°C; sendo que de Setembro a Novembro podem ocorrer altos níveis de precipitação. O Sul é, geralmente, seco e quente de Novembro a Abril e quente e húmido entre Maio e Outubro, com chuvas mais fortes entre Junho e Agosto.
Deixo aqui este site em que podem informar-se melhor e dois pontos a reter:
- As monções, geralmente, ocorrem entre Maio e Novembro.
- O período dos tufões é mais acentuado entre Julho e Novembro.
Como a meteorologia é cada vez mais incerta, eu (Eduarda) fui no mês de Outubro, o único período que tínhamos disponível para viajar pelo país e em 11 dias apenas apanhámos uma manhã de chuva em Hoi An, sendo que à tarde o calor apertou e fomos fazer praia. Portanto, não nos arrependemos de arriscar e correu tudo muito bem. Em Ho Chi Minh estavam sempre acima de 30°C e bastante húmido. No Centro do país, o tempo estava ameno e apenas apanhámos uma manhã de chuva, sem sequer estar frio. No Norte tivemos muita sorte, especialmente em Halong Bay: dois dias de sol, um calor sereno e céu limpo. Segundo o nosso guia, fomos uns felizardos, porque o normal lá na Baía são os dias encobertos. Em Hanói tivemos um calor húmido bastante suportável.

Como se deslocar?
Grab: se não podem percorrer uma distância a pé, chamem o Grab. É um serviço equivalente ao Uber, com opção de pedirem Grab Bike, que recomendamos vivamente: andar de scooter no Vietname é uma experiência ímpar. Nós tentamos sempre evitar taxistas e tuk tuk drivers, portanto, para nós, esta é a melhor opção.
Porém, para os que preferem táxi, lemos que se deve apanhar apenas os VinaSun ou Mai Linh e, se possível, os de quatro lugares e não os de sete, por serem os mais baratos.
Autocarro e comboio: são as opções mais económicas e os backpackers costumam viajar durante a noite para economizar no alojamento. Nós não usámos nem um nem noutro, mas conhecemos quem o tivesse feito e o feedback é positivo.
Avião: como tínhamos pouco tempo, não quisemos desperdiçá-lo e, por isso, optámos por viajar de avião entre regiões. Esta é uma excelente opção sobretudo pelo tempo que se ganha, em particular se for para atravessar o país duma ponta a outra. Fizemos todas as deslocações com a Vietnam Airlines, mas têm companhias aéreas lowcost (VietJet Air, Jetstar, Bamboo Airways, etc.). No nosso caso, acabou por compensar viajar com aquela e não nos arrependemos. Zero atrasos!
PRIMEIRA PARAGEM: HO CHI MINH
O nome da cidade foi alterado na década de 70, em homenagem ao grande líder e herói vietnamita de mesmo nome, Ho Chi Minh. Era (e ainda é para os locais) conhecida como Saigon antes da guerra e herdou um forte passado capitalista de influência americana. Para quem tiver curiosidade sobre esse período, recomendamos a série Vietnam War, disponível na Netflix. Vimo-la antes da viagem e sem dúvida que nos dá outra preparação para absorver melhor o país.
Apesar de ser maior que Hanói, não é a capital, mas tem muito para oferecer a quem a visita. É talvez a que mais se assemelha ao ambiente das cidades ocidentais, com os seus arranha-céus e um estilo de vida vibrante e cosmopolita. Além disso, é a cidade que tem o record de número de motos por habitante. Lemos algures que Ho Chi Minh abriga oito milhões de habitantes e mais de sete milhões de motos. Agora imaginem isso tudo a apitar e vocês a atravessar a rua, confiando na sorte, porque ninguém pára, mas é quase como se fosse telepatia, as motos desviam-se das pessoas. Passadeiras são miragens!
Ficámos dois dias completos em Ho Chi Minh City, precisávamos de mais um para ir ao Delta do Rio Mekong, mas tivemos que fazer opções e como queríamos muito ir a Hue, ‘roubámos’ um dia a esta cidade. Dividimos o tempo da seguinte forma:
1º dia – Explorar a cidade
2º dia – Cu Chi Tunnels (é possível conhecer o templo Cao Dai no mesmo dia, mas quisemos apenas o ‘half day tour‘) e explorar novamente a cidade, da parte da tarde
Dia 1 – chegada
Chegámos a Ho Chi Minh por volta das 13h de um Sábado, pela Qatar Airways. Não há isenção de Visto para portugueses e, para a obtenção do Visto à chegada no Vietname através de um dos aeroportos internacionais, é sempre necessária a solicitação de uma carta de pré-aprovação junto de um dos muitos agentes disponíveis online. Por experiência própria, recomendo este agente, foi o que usei e correu muito bem. A carta é enviada por email no prazo máximo de dois dias. Assim que chegam ao aeroporto, dirigem-se ao “Landing Visa” ou “Visa Upon Arrival” e seguem as instruções para que consigam o Visto de Turista. Não se esqueçam de levar o Passaporte com validade mínima de seis meses e fotos tipo passe.
Depois de ficarmos devidamente acomodados no Rex Hotel, fomos explorar a cidade mais popular do Sul do país. Este alojamento fica no distrito 1 (o ideal para se hospedarem) e ficou conhecido por ser a base das actividades sociais e militares dos soldados americanos durante a Guerra do Vietname. Era ali também que os militares americanos faziam as conferências de imprensa diárias.
A localização do hotel é excelente e então fomos a pé até chegar à Catedral de Notre Dame, a uns dois minutos dali. Construída em 1877 pelos franceses, é um dos poucos locais de celebração da religião católica no Vietname. Quando fomos, infelizmente, estava com partes da fachada em reconstrução.
Ali mesmo ao lado ficam os Correios Centrais de Saigon (Saigon Central Post Office), um belo edifício projectado pelo famoso Gustave Eiffel, durante a época de colónia francesa. É giro mandar um postal para a nossa morada e ver quanto tempo demora a chegar, mas a fila era tanta que acabámos por desistir. Trouxemos os postais e os selos como recuerdo.
Pertinho dali fica a Opera House, um dos marcos da cidade, em estilo francês. De 1955 a 1975 foi usada como a Assembleia do Governo do Vietname do Sul e depois voltou a ser um teatro.
A poucos metros do nosso hotel ficava também a Bitexco Financial Tower, o edifício mais alto de Ho Chi Minh City, com 262.5m. É um prédio de escritórios, mas a maior atracção para os turistas é o Skydeck, no 49º andar.
Outra curiosidade sobre a cidade é que a maioria das pessoas vive em locais chamados hems, semelhantes a vielas, onde reina o espírito de comunidade e de entreajuda. Para perceberem melhor a essência desta fantástica cidade recomendamos que, antes da viagem, vejam o episódio sobre Ho Chi Minh na série Street Food: Asia, da Netflix.

Dia 2
O segundo dia começou nos Cu Chi Tunnels, a cerca de 1h30 da cidade. Fizemos o tour com a empresa local Vietnam Adventure Tours e tivemos a sorte de ter como guia um veterano de guerra. Tivemos conhecimento da empresa através do GetYourGuide, mas decidimos contactá-los directamente porque assim evitámos que pagassem comissão à GetYourGuide, é uma forma de ajudar os empreendedores locais, sem intermediários. Recomendamos mesmo esta visita.
Não íamos com grandes expectativas, porque achávamos que era mais um spot tipicamente idealizado para turistas, como o Damnoen Saduak de Banguecoque, mas afinal foi uma manhã de grande aprendizagem. Ali está um dos maiores tesouros da história recente do país: os túneis foram construídos pelos vietcongs durante a Guerra do Vietname. Parte dos cerca de 270 km de túneis está aberta a visita e o local transformou-se num museu a céu aberto. Estes túneis, incrivelmente estreitos e baixos, serviam de abrigo e moradia dos vietcongs e vão até dez metros de profundidade, em três níveis diferentes. Para quem não sofre de claustrofobia, é-lhes dada a possibilidade de rastejar como um verdadeiro vietcong, tem é de estar preparado para suportar o ar abafado, apesar dos sistemas de refrigeração engenhosamente inventados. Eu não perdi essa oportunidade!

De volta à cidade, fomos conhecer o Museu da Guerra (War Remnants Museum), que acumula as marcas de um conflito que o tempo demora a apagar. A experiência é sombria e o percurso faz-se através de uma extensa colecção de fotografias da chamada ‘Guerra do Vietname’. A crueldade e a frieza chegam a impressionar e a história de um conflito sangrento fica-nos a ressoar na mente. Há uma sala, a que para mim foi a mais impiedosa, em que quase sentimos o cheiro do agente laranja, que destruiu florestas inteiras, rios e as principais fontes de água potável no país. Além de contaminar as fontes naturais de subsistência, aniquilou a fauna e flora por onde passou e deixou cicatrizes das mais diferenciadas formas entre dois a cinco milhões de pessoas. A revolta invade-nos ao conhecermos com detalhe as atrocidades, os massacres, as aldeias e vidas destruídas. Não vou aqui colocar imagens, porque são demasiado chocantes.
Na parte exterior do Museu podem ver algumas relíquias de guerra. É possível caminhar entre aviões do modelo F5, tanques norte-americanos de modelo M41 e M48 e alguns caças projectados para duas pessoas.
Antes de uma deliciosa food tour, fomos descobrir a Bui Vien Street ao entardecer, a rua mais badalada de Saigon. Há quem a compare (e bem!) à Khao San Road de Banguecoque, dada a quantidade de bares e de turistas. No fim da food tour, voltámos lá para perceber como era à noite. Imperdível!
Dia 3
No terceiro dia permitimo-nos apenas caminhar pela cidade à descoberta. Fomos tomar um café ao The Cafe Apartments, a conversão mais cool de um antigo prédio de nove andares numa fantástica colecção de cafés, restaurantes, lojas de moda, espaços de coworking e até uma livraria. No total são cerca de 30 lojas reformadas, na Walking Street (ou Nguyen Hue Street), muitas delas com varandas externas. Esta praça gigantesca, que acolhe o icónico prédio, é um espaço de lazer para a população. À noite, fica lotada de locais, mesmo em dias de semana. Num dos extremos da Avenida está o prédio histórico da Câmara de Ho Chi Minh (amarelo colonial) e, na outra extremidade, as margens do Rio Saigon.
Depois do nosso cafézinho fomos explorar o famoso Ben Thanh Market, um mercado enorme com mais de 3000 barraquinhas, onde se encontra um pouco de tudo: comida, souvenirs, roupas, calçado e acessórios. Negociar é regra de ouro! De referir apenas que as compras de souvenirs são normalmente mais baratas na zona dos backpackers que neste mercado.
Passámos ainda pelo Palácio da Reunificação, mas já não tínhamos tempo de entrar e explorar. Mesmo assim acreditamos que valerá muito a pena, até porque é o marco que representa o fim da guerra, tal como a queda do Muro de Berlim. Na série Vietnam War, vêem que, em 1975, os tanques do Vietname do Norte invadiram o local, que era a residência presidencial do Vietname do Sul. Este é o lugar histórico por excelência que resistiu a duas batalhas, contra os franceses e contra os americanos.
No final da tarde apanhámos voo para Hue, a antiga capital imperial, já no Centro do país.
SEGUNDA PARAGEM: HUE
Hue é a capital da província de Thua Thien-Hue. Até 1945 foi capital do país (desde 1802), quando o imperador Bao Dai abdicou e um governo comunista foi estabelecido em Hanói. Pela sua posição, perto da divisa entre as forças do Norte e do Sul do país, Hue foi bastante prejudicada durante a Guerra do Vietname, sendo palco de uma das batalhas mais sangrentas do conflito: a Batalha de Hue. Muitos prédios históricos foram destruídos durante a Guerra e hoje emprega-se um esforço para reconstruí-los e manter o turismo activo na região. Decidimos ficar uma noite e um dia na cidade, mas há muito mais para ver.

Ficámos instalados no Vinpearl Hotel Hue, no centro da cidade e com um Sky Bar de vistas deslumbrantes. O pequeno-almoço era excelente e o panorama que se tem através das paredes envidraças do quarto é de arrebatar. Altamente recomendado!
Dia 4
O dia começou cedo. Tínhamos reservado um passeio de um dia com a Hue Student Tour, uma organização local sem fins lucrativos, cujo principal objectivo é partilhar e trocar culturas e idiomas. Os turistas pagam apenas a comida, as entradas nos sítios e o combustível. Nós optámos por fazer de mota, mas também há a opção de carro. Acreditámos que esta é a melhor e mais segura forma de conhecer a cidade, porque os pontos de interesse ficam distanciados. É rápido e muito interessante, porque os estudantes interagem a 100%. O intuito deles é mostrar a cidade, mas, acima de tudo, praticar o Inglês e ‘viajarem’ para outros países através da conversa com turistas. Nós gostámos mesmo muito de conhecer a Diêu Chi e a Thoa Tran, muito simpáticas e curiosas acerca deste nosso Portugal. Segundo nos disseram, fomos os primeiros turistas portugueses que conheceram. 🙂
Pagodes e tumbas imperiais são os mais populares em Hue. De uma perspetiva arquitectónica, cada um dos túmulos são a expressão única da personalidade dos monarcas que os mandaram construir e reflectem os seus gostos pessoais. Os antigos governantes do Vietname passavam tanto tempo a preparar-se para a morte que a maioria dos túmulos reais tinha uma dupla função: antes do monarca “montar as costas do dragão” (eufemismo para a morte real), ele e a sua família usavam o futuro túmulo ​​como casa de campo.
De entre os muitos locais de interesse, visitámos:
Tu Hieu Pagoda: aninhado entre colinas e embelezado por um lago de lótus, este é o templo budista onde Thich Nhat Hanh, um dos líderes espirituais mais influentes dos nossos tempos, conhecido como o “pai do mindfulness” e indicado por Luther King para Prémio Nobel da Paz, escolheu passar o resto dos dias. Foi aqui que encontrámos, por acaso, Sư Cô Chân Không, uma activista da paz muito ligada a ele. Ambos dedicaram grande parte do seu tempo ao mosteiro budista de Plum Village, o maior da Europa, fundado por Thich Nhat Hanh no início da década de 80. Podem saber mais sobre Plum Village aqui.
Tumba do Imperador Tu Duc: local construído para ser o cemitério do Imperador Tu Duc, famoso no Vietname porque, apesar de ter 103 concubinas, não deixou filhos.

Tumba do Imperador Khai Dinh: construída pelo 12º rei do Vietname e supostamente o mais impopular e mais europeu dos reis: sofreu muito influência francesa na sua formação durante o período que viveu no país.
Almoço no Dong Ba Market, um imenso mercado a céu aberto, recomendado pelo Anthony Bourdain para se comer o verdadeiro Bun Bo Hue.
Thien Mu Pagoda, o maior da cidade, localizado às margens do Rio Perfume. Em Hue são mais de 300 pagodes, mas este é a estrela da cidade. Ficou mundialmente conhecido por ter sido a última morada do monge Thích Quảng Dúc que ateou fogo ao seu próprio corpo durante os protestos na cidade de Saigon contra o governo comunista. O Austin Westminster, carro que aparece na foto premiada, encontra-se no local. O pagode em si tem sete andares, um número sagrado para o Budismo.

Cidade Imperial de Hue: foi em 1804 que Gia Long mandou construir a Cidade Imperial, que seria uma cópia em menor escala da Cidade Proibida de Pequim. Durante o último governo imperial, a Cidade Proibida Púrpura, como era conhecida, tinha muitos edifícios e centenas de salas. Infelizmente, o bombardeio norte-americano de 1968, em resposta à tomada de Hue pelos comunistas, arrasou a maior parte da cidade, mas ainda conserva partes que valem muito a visita. Em 1993 foi declarada Património Mundial da UNESCO.

Muito mais havia para descobrir em Hue, mas Hoi An chamava por nós. Fizemos a viagem de carro com a empresa local Hanoi Transfer Service, com passagem pela magnífica Hai Van Pass. O percurso é de cerca de 3h, mas a paisagem é de cortar o fôlego, desde que não esteja encoberto.
Chegámos a Hoi An já o sol se tinha posto, mas ainda deu para explorar um pouco da cidade, junto ao rio.
TERCEIRA PARAGEM: HOI AN
Declarada Património Mundial da UNESCO em 1999, Hoi An é uma cidade nascida da fusão asiática. Localizada nas margens do Rio Thu Bon, foi um notável porto comercial entre os séculos XVI e XVIII, atraindo comerciantes da China, Japão e Europa, incluindo Portugal. Como resultado disso, a cidade reflecte as mais diferentes influências, indígenas e estrangeiras, numa mistura de estilos arquitectónicos que se combinam para dar origem a um património único. Diria que é a minha preferida, no Vietname!
Além da Ponte Japonesa, é conhecida pelas Assembleias, pelos pagodes, pelas casas tradicionais e santuários de conceituadas famílias locais. A cidade teve a sorte de escapar praticamente ilesa à Guerra do Vietname, pelo que muito do seu charme ancestral continua em estado puro. As lanternas coloridas são a alma da cidade e dão-lhe uma atmosfera inebriante.
Ficamos três noites e dois dias completos para usufruir da cidade com calma e diríamos que são suficientes para a conhecer. No centro histórico, o trânsito motorizado é proibido e foi muito agradável circular pelas ruas, ora a pé, ora de bicicleta.
Dia 5
Manhã inteiramente dedicada à descoberta do centro histórico de Hoi An. De entre os locais visitados, destaque para:
– Ponte Japonesa: símbolo da cidade e da amizade entre dois povos, por ter sido construída no início do século XVII pelos comerciantes japoneses que viviam de um lado da ponte para uni-los aos comerciantes chineses, do outro lado. A ponte é toda em madeira, com um pequeno templo dentro. Reparem que numa das pontas há um par de estátuas de macacos e, na outra, um par de estátuas de cães. Lemos que as figuras representam os anos chineses em que a construção da ponte começou (cão) e em que foi acabada (macaco).
– Assembly Halls: em Hoi An vão encontrar muitas destas construções. Parecem-se com templos mas, na verdade, são “complexos” que serviam para reunir a população chinesa. Entre os mais famosos edifícios antigos da Cidade Velha destacam-se as Assembleias Cantonesa, de Phuc Kien e Hainan as Casas antigas de Phung Hung e de Tan Ky, Quan Thang, a capela da família Tran e o Templo de Quan Cong. Estes edifícios fazem parte do legado histórico da cidade, construído ao longo dos últimos séculos. As que mais apreciámos foi a Quang Trieu Assembly Hall, do povo cantonês, e a Phuoc Kien Assembly Hall, do povo fujian.
– Ancient Houses: casas com centenas de anos, sendo possível visitar algumas delas.
– Hoi An Central Market: um mercado típico vietnamita onde encontram frutas, legumes, carnes, peixes, temperos, produtos frescos e industrializados.

À tarde o tempo melhorou significativamente. Chamámos o Grab Bike e fomos fazer praia para a An Bang Beach.
Depois do jantar, fomo-nos perder para o Night Market e recorremos ao clichê de colocar uma velinha no rio e pedir um desejo.
Dia 6
Depois do pequeno-almoço no hotel decidimos ir tomar café ao popular Faifo Coffee, um dos poucos spots em Hoi An com rooftop. É muito bonito verem os telhados da cidade de cima. Aqui podem também comprar o tradicional café vietnamita para trazerem de recordação.
Continuámos a explorar a cidade, sempre de bicicleta. O nosso hotel (Atlas Hotel) disponibilizava-as gratuitamente aos seus hóspedes e para irmos até à praia tinham também um shuttle bus gratuito, com diferentes horários de partida e de chegada. Aproveitámos para ir almoçar junto ao mar e relaxar mais um pouco naquela despretensiosa mas muito agradável An Bang Beach, com o seu mar de águas calmas e mornas (uma grande surpresa!).
Na terceira e última noite em Hoi An voltámos ao Night Market e fomos descansar. No dia a seguir tínhamos de estar preparados para deixar a cidade mais limpinha e organizada que conhecemos no Vietname para ir à descoberta da desconcertante capital, Hanói.
Temos muito poucas fotografias de Hoi An. A cidade parece uma tela, é tão rica em detalhes que nos perdemos em cada cantinho.
QUARTA PARAGEM: HANÓI
“Ha” significa Lago e “Noi” significa “entre”: “entre dois lagos”, fazendo referência aos dois lagos que limitavam a cidade: Westlake e Hoàn Kiêm. A capital do Vietname é verdadeiramente uma surpresa. A selecção de adjectivos é difícil, mas diria que é incomparável, singular, graciosa e autêntica.
As expectativas eram muito altas, um casal amigo que tinha estado no país dois anos antes havia-nos dito que era a cidade favorita de ambos. Não desiludiu, muito longe disso! Há um certo caos organizado que contrasta harmoniosamente com a influência francesa.
Algo a reparar no Vietname são os prédios, que são extremamente finos e esguios. Diz-se que na época da guerra, o povo ficou ainda mais pobre e precisava de vender metade dos seus terrenos ou das suas casas e como só tinham metade de um terreno, que já de si era pequeno, subiam a construção dos prédios assim mesmo, super slim.
Dia 7
Voámos para Hanói bem cedo, pela Vietnam Airlines. Queríamos aproveitar muito bem o sétimo dia no país. Chegados ao hotel (Oriental Suites Hotel & Spa), com excelente relação qualidade-preço e muito bem localizado, lançamo-nos para a rua. Já agora, o melhor lugar para ficarem alojados é no Old Quarter, nas periferias do Lago Hoàn Kiêm. É aqui que tudo acontece e é a área mais agradável da cidade para andar a pé e desfrutar da capital.
O primeiro dia na cidade foi dedicado aos bairros de Old Quarter e French Quarter, que abrangem o centro histórico da cidade.
De salientar que, infelizmente, não tivemos oportunidade de visitar o Ho Chi Minh Complex, pelo facto de às Segundas e Sextas o Mausoléu e o Museu estarem fechados e ter coincidido com os dias que estivemos na cidade (no Sábado e no Domingo fomos para Halong Bay e nos restantes dias voámos para o Laos, país vizinho). Porém, este é um ponto obrigatório. É no Ho Chi Minh’s Mausoleum que está conservado o corpo de Ho Chi Minh e no Ho Chi Minh Museum é narrada a história do líder através de objectos e documentos da época.
A primeira paragem foi para conhecer o Templo da Literatura (Van Mieu), com quase mil anos, é a mais antiga Universidade do Vietname e é também um templo dedicado a Confúcio. Era aqui que se formavam os mandarins da corte imperial e é aqui se hoje se reúnem os estudantes para pedir bençãos e tirar as fotografias de fim de curso, trajados a rigor.
Dali partimos à descoberta da Hoa Lo Prison (ou Maison Centrale), uma prisão construída na época do domínio francês que era usada para prender vietnamitas e castigar duramente os revolucionários que lutavam pela independência do país. A prisão ficou igualmente conhecida como Hanoi Hilton, porque, anos mais tarde, passou a ser usada pelos próprios vietnamitas do Norte para prender prisioneiros de guerra americanos. Aqui estamos em pleno French Quarter, resultado do extenso período de colonização francesa. O maior destaque vai para a Opera House e é aqui também que fica o Vietnamese Women’s Museum, um museu que retrata a história das mulheres vietnamitas ao longo dos séculos.

Sempre a caminhar, demos de caras com a St. Joseph’s Cathedral, construída durante o período de colonização francesa, notável pelo seu estilo neo-gótico e inspirada na famosa Notre Dame de Paris. Continuámos a passear e fomos ter ao Hoàn Kiêm, o lago que é o coração de Hanoi, em pleno Old Quarter. No meio do lago está a Torre da Tartaruga. Diz a lenda que o Imperador Le Loi recebeu do lago uma espada mágica e com essa espada o rei conseguiu expulsar os chineses do Vietname. Um dia depois, enquanto o imperador passeava pelo lago, apareceu uma tartaruga que tomou a espada de volta. Numa pequena ilha desse lago fica o templo mais importante e visitado da cidade, o Ngoc Son, conectado com a margem do lago por uma bonita ponte vermelha. Construído no século XIV, é dedicado a Tran Hung Dao, um herói de guerra que derrotou três vezes os exércitos mongóis que tentaram invadir o Vietname no século XII. Lá encontram também uma tartaruga embalsamada de 250 kg, uma das últimas de uma espécie já extinta, e que dizem ser descendente daquela que terá vindo reclamar a espada sagrada. À noite, a ponte e o templo ficam ainda mais bonitos iluminados.
Depois do jantar fomos até ao Hanoi Night Market, perto do hotel, e aproveitámos ainda para ir beber uma cerveja à Tan Hien Street (ou beer corner), uma rua muito popular entre turistas e locais pela vida nocturna. Deitámo-nos cedo, porque no dia a seguir partíamos para Halong Bay.
Se tiverem oportunidade, façam por estar em Hanói ao fim-de-semana, em que as ruas são fechadas ao trânsito, os locais reúnem-se nas margens do lago e fica ainda mais agradável passear pelo Old Quarter. Sem carros, sem motas! Das 19h de Sexta à meia noite de Domingo, toda a área em redor do lago é das pessoas, exclusivamente. Por todo o lado há animação, desde jogos tradicionais em que os mais novos revivem a própria cultura, a bandas de música actuam em plena rua, há muito karaoke improvisado, muitos artistas locais a exibir talentos. Enfim, todo um sem fim de vida, muita vida!
Dia 8
O ideal é passar, pelo menos, uma noite num cruzeiro por Halong Bay, mas como nem todos têm tempo suficiente, as agências oferecem passeios de um dia, sendo possível comprá-los nos próprios hotéis.
Nós já tínhamos feito a reserva previamente e não nos arrependemos nada de ter passado uma noite naquele lugar idílico. Por norma, os preços destas excursões incluem o pick up, a acomodação no barco (uma noite, no nosso caso), refeições (dois almoços, um jantar e um pequeno-almoço), autorização para circular na Baía, seguro e guia em inglês. Além disso, podem ter actividades como kayaking, tai chi, aula de culinária e por aí em diante. Vai depender do que pretendem fazer e do quanto querem gastar. De referir apenas que esta opção anda sempre acima dos 200€ para duas pessoas.
Fizemos com a empresa local Vega Travel. Pegaram em nós no nosso hotel por volta das 07h30 da manhã e perto das 12h chegámos a Halong City.
Depois das boas-vindas a bordo que incluiu um almoço com aqueles que iriam ser os nossos companheiros de viagem, subimos até ao terraço e instalámo-nos confortavelmente nas espreguiçadeiras enquanto o barco percorria as centenas de ilhas e ilhotas da Baía de Bai Tu Long. Esta é uma área menos turística, mais limpa e bem preservada que a Baía de Halong.
Depois de chegarmos a uma zona remota, desfrutamos de um passeio de caiaque, sempre orientados pelo nosso simpático guia vietnamita, o Dem. Fizemos uma paragem para visitar a Trong Cave e a Trinh Nu Cave. Tivemos um tempinho, cerca de 1h, para nadar nas águas cor de esmeralda e conhecer um pouco melhor o nosso grupo de viajantes. Havia espanhóis, belgas, italianos e um rapariga dos EUA que viajava sozinha!
De regresso ao barco, ancorado numa lagoa tranquila entre a Baía de Bai Tu Long e a Baía de Ha Long, tomámos um bom banho para, de seguida, nos reunirmos novamente para uma divertida aula de culinária. Por fim, o jantar preparado pelo staff (e não por nós, felizmente!). Apesar do cansaço, e por estar uma noite tão amena e agradável, fomos para o deck apreciar o céu totalmente estrelado, enquanto bebíamos uma cerveja fresca. Foi uma noite tranquila naquele paraíso já próximo da China. Aliás, o nosso guia disse-nos que estávamos muito mais perto da China que de Hanói.
Dia 9
Acordámos muito cedo, mas já havia luz lá fora, para tomarmos o pequeno-almoço no barco com o resto do grupo. A ideia de acordar às 6h da manhã custou, mas depois fomos amplamente recompensados: fomos dos primeiros a chegar à caverna mais famosa de Halong Bay, a Hang Sung Sot (Surprise Cave). É a caverna à qual todas as excursões vão e, por isso, quanto mais cedo melhor. Depois de subirmos novamente para o barco, mal sabíamos nós que nos esperavam cerca de 340 degraus para alcançar o topo do pico da montanha Ti Top, na Ti Top Island. Alguns não tiveram coragem, mas quando chegámos lá cima sentimos que valeu todo o esforço. Não foi fácil percorrer aquele escadório íngreme e pouco linear, com um calor húmido fora de série, mas a vista compensou todas as gotas de suor. Começámos a descer e fomos recuperar energias para a praia desta pequena ilha, uma praia de areia formada naturalmente que nos convida para um um mergulho refrescante na baía.
Seguimos pela Baía de Halong, vimos a ilhota Fighting Cock, mais grutas e uma zona de piscicultura. Para terminar em beleza, antes do último almoço a bordo, parámos num lugar tranquilo para relaxar no convés do barco. Regressámos a Halong City por volta das 12h, desembarcámos e continuámos a nossa viagem terrestre para Hanói.

Já em Hanói deambulámos pelo Old Quarter, simplesmente a observar a vida dos locais e a forma como se exercitam e convivem nas margens do lago. Fomos, claro está, experimentar o egg coffee ao Café Nang. Dizem os entendidos que este café, além de grãos de café, do tipo robusta, leva gemas de ovos, leite condensado e outros ingredientes guardados a sete chaves. É muito, muito saboroso! Há uma enorme quantidade de cafés espalhados pela cidade, mas este é uma das paragens obrigatórias.
À noite, alinhámos numa outra experiência: beber uma Bia Hoi, que dizem ser a cerveja artesanal mais barata do mundo, e talvez seja! Cada copo custa à volta de vinte cêntimos (fizemos a conversão e pagámos 0,17€ por cada) e a cerveja é feita diariamente, sem conservantes. Fomos àquele que dizem ser o melhor lugar para experimentar a Bia Hoi: no cruzamento entre a Luong Ngoc Quyen e a Ta Hien Street. Também faz parte da ‘experiência’ sentarem-se num dos banquinhos de plástico, seja de manhã, à tarde ou à noite. Sobre os sítios a que fomos comer, faço depois um artigo à parte focado apenas na gastronomia, porque vale muito a pena!
Dia 10
O décimo dia no Vietname foi apenas uma manhã, porque tínhamos voo para o Laos. Depois de tomarmos o pequeno-almoço no hotel, fomos tomar outro egg coffee, para descobrir as diferenças, ao famoso Giang Café. Apesar de este ser mais popular e recomendado em praticamente todos os blogs de viagens, aliás via-se pela quantidade de turistas que preenchiam as salas e corredores, acho que gostei mais do outro, por ser mais cremoso. Deixámos a mala maior no hotel (depois iríamos voltar) e fomos para o aeroporto internacional.
Aproveitámos para ir dar mais uma voltinha em redor do lago para ver os locais nos seus exercícios matinais. Há homens e mulheres de todas as idade, seja a fazer jogging, tai chi, yoga, musculação, danças latinas, artes marciais, ginástica e até meditação. É mesmo bom estar ali!

Dia 11
Depois de voltarmos do Laos, foi um novo ‘choque’ voltar às buzinadelas e à agitação da capital vietnamita, mas aquele caos é tão organizado que chega a ser delicioso e viciante!
Como era o último dia no país, revisitámos os nossos sítios favoritos e fomos comprovar algo que tínhamos lido. O Old Quarter é conhecido pelos locais como “Trinta e Seis Ruas”, pelo que as ruas assumem nomes de ofícios e, se estiverem atentos, hão-de reparar que muitas delas são dominadas por actividades muito específicas como artigos religiosos, alumínios, ervas aromáticas, papelaria, brinquedos, roupa interior e por aí fora. Para nós não foi assim tão agradável, porque nem das 10h da manhã eram e fomos dar à rua das carnes (talvez os talhos dos vietnamitas) e demos de caras com uma senhora a cortar rãs, ainda vivas. O que vale é que logo a seguir fomos ter à rua das flores e ficamos encantados!
Ainda tivemos tempo de ir ao Legend Beer Hanoi, conhecido pelo seu terraço ao ar livre com vista para o trânsito movimentado, ao pé do Lago Hoàn Kiêm.
A nossa dica é deixarem uma manhã ou uma tarde (ou até um dia, idealmente!) para simplesmente vaguearem por este colorido e caótico labirinto. É uma cidade imperdível que nos deixa com os sentidos sempre alerta. Deixem-se levar, sintam a essência da cidade e toda aquela dinâmica frenética. Absorvam cada estímulo, cada momento.
Para os amantes de gastronomia, hei-de fazer um artigo inteiramente dedicado às especialidades vietnamitas. De resto, apenas para referir que esta viagem foi feita em Outubro de 2019.